segunda-feira, 9 de maio de 2016

Prefácio























Há quem diga que o bom livro é aquele que alia ao seu valor estético uma utilidade, um comentário, ao menos, sobre as questões que nos afligem. O lazer de mãos dadas com o aprender, poesia de braços com serventia. Quer-se, enfim, que ele nos traga alguma orientação, seja para a vida prática, seja para vida emocional. Se você, leitor, compartilha dessa opinião, vai apreciar o livro que tem diante de si.

“O mergulho do paulista” espelha o tempo presente desde o nascimento. Ele só existe, aliás, por causa de um golpe cada vez mais comum à nossa experiência: o desemprego. Como reagir diante de sua chegada? Como sempre não há resposta, mas respostas. Uns se recusam a aceitar o fato e tentam, de todas as maneiras, refazer a vida nas condições anteriores. Outros, percebendo que o reingresso no mercado é quase impossível, deixam as metrópoles para ir à busca do desconhecido. Foi o caso do autor. A distância geográfica e espiritual que separa São Paulo de Marataízes dá a medida de sua viagem.

Não pense, porém, que as páginas adiante trarão digressões melancólicas ou uma forma subliminar de exaltação das próprias virtudes. Não. Ao mesmo tempo em que divide conosco sua história, Paulo Araujo tem o cuidado de fazê-la contar-se através de seus novos companheiros. Ao assumir o papel de espectador, ou aprendiz, desaparece para se fazer mostrar. É um acerto. Além de nos oferecer um retrato social rico em ângulo, foco e contraste, poupa-nos do derramamento emocional que é a ruína de muitos projetos.

Misto de autobiografia e crônica do cotidiano, “O mergulho do paulista” principia em desalento, cresce conciliador e termina estimulante. Por trás dos temores do recomeço, pode haver descobertas capazes de fazer de nós pessoas melhores. Os que esperam algo parecido da vida terão uma boa leitura pela frente.

Marcus Aurelius Pimenta

Jornalista e escritor

Introdução

De outubro de 2002 a janeiro de 2003, o Paulista viveu uma situação inédita e desconcertante. Pego de surpresa pela crise mundial pós 11 de setembro de 2001, perdeu o emprego como executivo de uma multinacional, em São Paulo. Perdeu um pouco também do controle da sua vida. As tentativas de retorno ao mercado foram todas infrutíferas, tanto que ele, a esposa e o filho pequeno deixaram a capital paulista rumo ao Espírito Santo.

Como ele mesmo diz, caiu de paraquedas em Marataízes, mais precisamente no Bairro do Juá. Ali, conviveu com pessoas simples, ouviu várias histórias e participou de algumas delas. Como tinha pouca opção para passar o tempo, sem computador, sem emprego e sem perspectivas imediatas de encontrá-lo, prestava bastante atenção em tudo que acontecia à sua volta e depois anotava em folhas avulsas de papel, até mesmo em guardanapos de quiosques.

Reuniu esses escritos que misturavam realidade com pitadas de ficção e começou a rascunhar um livro. Depois de muitas idas e vindas, resolveu editá-lo e colocá-lo na internet. Juntou ilustrações feitas toscamente à lápis para manter a mesma atmosfera dos textos. O resultado está aqui à disposição de todos, inclusive daqueles que aparecem na trama e nos “causos”, com nomes fictícios. Quem viveu algumas das situações expostas certamente se lembrará e também identificará outras personagens de Marataízes e de Cachoeiro de Itapemirim.



Marataízes
Humaníssima Trindade

Paulista, Paulo Araujo e Paulí