segunda-feira, 9 de maio de 2016

Prefácio























Há quem diga que o bom livro é aquele que alia ao seu valor estético uma utilidade, um comentário, ao menos, sobre as questões que nos afligem. O lazer de mãos dadas com o aprender, poesia de braços com serventia. Quer-se, enfim, que ele nos traga alguma orientação, seja para a vida prática, seja para vida emocional. Se você, leitor, compartilha dessa opinião, vai apreciar o livro que tem diante de si.

“O mergulho do paulista” espelha o tempo presente desde o nascimento. Ele só existe, aliás, por causa de um golpe cada vez mais comum à nossa experiência: o desemprego. Como reagir diante de sua chegada? Como sempre não há resposta, mas respostas. Uns se recusam a aceitar o fato e tentam, de todas as maneiras, refazer a vida nas condições anteriores. Outros, percebendo que o reingresso no mercado é quase impossível, deixam as metrópoles para ir à busca do desconhecido. Foi o caso do autor. A distância geográfica e espiritual que separa São Paulo de Marataízes dá a medida de sua viagem.

Não pense, porém, que as páginas adiante trarão digressões melancólicas ou uma forma subliminar de exaltação das próprias virtudes. Não. Ao mesmo tempo em que divide conosco sua história, Paulo Araujo tem o cuidado de fazê-la contar-se através de seus novos companheiros. Ao assumir o papel de espectador, ou aprendiz, desaparece para se fazer mostrar. É um acerto. Além de nos oferecer um retrato social rico em ângulo, foco e contraste, poupa-nos do derramamento emocional que é a ruína de muitos projetos.

Misto de autobiografia e crônica do cotidiano, “O mergulho do paulista” principia em desalento, cresce conciliador e termina estimulante. Por trás dos temores do recomeço, pode haver descobertas capazes de fazer de nós pessoas melhores. Os que esperam algo parecido da vida terão uma boa leitura pela frente.

Marcus Aurelius Pimenta

Jornalista e escritor

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